segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Crônica Urbana

O homem inquieto dentro do terno
Freia quando fecha o sinal
E observa o menor correndo
Pela contramão vicinal.
Vestindo um modelo importado
Movido a álcool e gasolina
O homem aciona as travas
Dos vidros laterais e de cima.
Atrás de sua gravata de seda
Chama ao celular a polícia:
E grita e berra e desespera,
Toda sua cólera esguicha!
E vêm os homens da lei
Cheios de toda uma razão
Conduzir o pequeno infrator
E encarcerá-lo a detenção.
Logo chegam os jornais
Com suas paginas sombrias
Para narrar a nobre ação
Do benfeitor daquele dia.
Cobre-lhe de homenagem a câmara,
De medalhas condecora-lhe o estado
E para portar a chave da cidade
Seu honroso nome é requisitado.
Mas se abrisse a janela o carro
E pudesse o homem olhar ao redor
Logo perceberia a injustiça
E talvez pensasse melhor.
Veria que aqueles trapinhos
Que conduziam o pobre menino,
Seriam sua intransferível herança,
Trapalhadas do insano destino;
E as pernas bambas que corriam
Como a procurar confusão
Apenas tentavam enganar
A barriga que não tinha pão.
O barraco imitando um casebre,
O pai que a pinga levou
E a mãe que o emprego mendiga
São dotes que a vida deixou.
Então o homem olharia para si,
Para o menino com sua sina.
E diante do carro de luxo,
Aquisitado com bens de propina,
Chamaria os jornais de plantão
E culpado se confessaria.
Então na sombra de sua cela

A consciência tranquila dormiria.  
                                                                                                            (Autor: Lourival Lopes)

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